A Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro manteve pagamentos ao laboratório PCS Lab Saleme em setembro, mesmo após tomar conhecimento de ...
A Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro manteve pagamentos ao laboratório PCS Lab Saleme em setembro, mesmo após tomar conhecimento de erros graves nos laudos emitidos pela empresa, que resultaram na infecção por HIV de seis pacientes transplantados.
A Secretaria Estadual de Saúde afirmou ter sido informada da situação em 10 de setembro, quando um paciente, transplantado em janeiro, apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Antes do transplante de coração, ele não possuía o vírus.
Em nota, a Fundação Saúde justificou que os pagamentos realizados em setembro referiam-se a despesas de meses anteriores. Leia abaixo a nota na íntegra:
"A Fundação Saúde informa que não foi realizado pagamento após 01/10. Todos os pagamentos ao laboratório PCS estão suspensos e uma sindicância foi aberta no dia 07/10. Os valores pagos em setembro são referentes às despesas realizadas em meses anteriores, que já tinham sido faturados quando foi determinada a instauração da sindicância. Os comprovantes apresentados pela reportagem se referem a serviços prestados antes da interdição do Laboratório. Conforme está na própria nota de liquidação, a competência é a junho de 2024. Esse serviço foi pago em setembro. O documento SEI 85239326 e a Nota Fiscal 51385 são referentes a serviços prestados em julho, que não foram pagos pela Fundação em função da suspensão do contrato. No total, a Fundação pagou, em setembro, cerca de R$ 857 mil ao Laboratório PCS".
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro já anunciou a abertura de uma investigação para apurar a contratação do laboratório, que tem entre seus sócios Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do deputado federal Doutor Luizinho, ex-secretário de Saúde do estado. O MP busca avaliar os danos causados pelo serviço inadequado, além de investigar possíveis irregularidades no processo de licitação, dadas as ligações familiares envolvidas.
O laboratório PCS Lab Saleme, localizado em Nova Iguaçu, foi contratado pela Secretaria de Saúde em dezembro de 2023, por meio de pregão eletrônico, no valor de R$ 11 milhões, para realizar sorologia de órgãos doados. Walter Vieira, outro sócio da empresa, também possui laços familiares com Doutor Luizinho e chegou a participar de campanhas eleitorais em seu apoio. Walter foi preso, e Matheus foi alvo de buscas em suas residências.
Desde agosto de 2022, a Fundação Saúde repassou R$ 19,6 milhões ao laboratório para serviços prestados em várias unidades de saúde, como UPAs de Bangu e Campo Grande, mesmo sem a existência de um contrato formal no início dos trabalhos. O montante destinado ao PCS Lab entre 2022 e 2024 chegou a R$ 21,5 milhões, refletindo o crescimento progressivo dos repasses.