“A acusação contra a ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, parece frágil para quem conhece minimamente as campanhas nos grotões do Brasi...
“A acusação contra a ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, parece frágil para quem conhece minimamente as campanhas nos grotões do Brasil”, escreve Ricardo Bruno/Agenda do Poder
BRASIL - Sob alto fogo cruzado disparado à boca pequena por integrantes do próprio governo, a ministra Daniela Carneiro tem enfrentado nesta semana um bombardeio público inclemente. A denúncia fulcral é de que, em campanha, tirou fotos com um cidadão condenado por homicídio e acusado de pertencer a grupo miliciano. A menos que haja fatos ainda desconhecidos, a acusação parece frágil para quem conhece minimamente as campanhas eleitorais nos grotões do Brasil, especialmente na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
Em incursões à cata de voto, não se pede certidão de bons antecedentes. A rotina atribulada das caminhadas e panfletagens na periferia, e até mesmo em atos mais reservados de campanha, conduz o candidato ao encontro de apoios sejam eles quais forem. O lendário líder Miguel Arraes, ao comentar a natureza das adesões que recebia em determinada campanha, resumiu com precisão o fenômeno que o fez receber apoios de coronéis e jagunços do sertão: “Meu filho, campanha é como açude, pra encher, recebe a água de todo lado, vem inclusive água suja junto. O Importante é encher o açude”.
A lógica de Arraes é a mesma da esmagadora maioria dos candidatos em todo o Brasil. Às vésperas do pleito, fazem tudo o quer for possível para engrossar o conjunto de engajamentos de suas candidaturas. Na Baixada Fluminense, região marcada pela violência e pela atuação de facções paramilitares, é quase impossível se fazer campanha sem algum contato ou interseção social com esses grupos.
Não há como se lançar uma candidatura, fazer panfletagens, caminhadas, comícios, reuniões em associações comunitárias, sem qualquer tipo de relacionamento com personagens próximos ou vinculados à atividade criminosa. Deveria ser diferente. Mas não é.
Em determinadas comunidades do Rio, a situação é ainda mais grave: nenhum candidato consegue entrar sem negociação prévia com grupos criminosos que dominam o território. Profundamente lamentável, mas retrato rematado da realidade. Entre os políticos, não é novidade: todos conhecem este triste rito necessário ao trânsito em determinadas áreas.
Atos memoráveis
Daniela e Waguinho
foram das poucas lideranças evangélicas a apoiar
Lula com firmeza durante
a campanha. Promoveram
atos memoráveis em apoio
ao petista nas ruas de Belford Roxo. Não hesitaram
mesmo diante de ameaças
dessas mesmas facções
criminosas paramilitares –
vinculadas, sem exceção,
à campanha de Jair Bolsonaro.
O conjunto de acusações contra a ministra é
periférico e inconsistente.
Além da famigerada foto,
fala-se da irmã, do marido, da prefeitura – nada
exatamente sobre o seu
CPF. Não há qualquer fato
objetivo que revele sequer
indícios de conivência ou
participação da ministra
em atos comprovadamente ilegais.
A ministra Daniela é
uma mulher evangélica,
de valores familiares tradicionais, moradora na
Baixada Fluminense. A
sua presença no primeiro
escalão tem a simbologia de mostrar ao Brasil a
abertura efetiva de diálogo
com setores que durante a
campanha se mostraram
inexpugnáveis à esquerda.
Ajuda a delinear o perfil
de um governo de efetiva coalizão popular, para
além dos estereótipos da
esquerda. Lula teve exatamente este propósito. Não
foi por acaso que Daniela
do Waguinho foi nomeada ministra e Marcelo
Freixo, seu subordinado.
Uma combinação improvável a favor da reconstrução do Brasil.
Por Ricardo Bruno247/Agenda do Poder