RIO DE JANEIRO - O tiro saiu pela culatra. O atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) acabou por "motivar" eleitores anônimo...
RIO DE JANEIRO - O tiro saiu pela culatra. O atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) acabou por "motivar" eleitores anônimos e famosos a utilizarem o famoso chapéu Panamá para votação do segundo turno no Rio de Janeiro neste domingo, dia 29. Na sexta-feira, o candidato atacou Eduardo Paes (DEM), afirmando que o rival usa “chapeuzinho de Zé Pilintra”, uma entidade da umbanda, durante os desfiles do carnaval carioca. A cantora Alcione escolheu uma roupa azul e colocou o seu adereço para exercer o direito de cidadã. Em uma publicação nas redes sociais, Marrom deixou claro o seu apoio a Eduardo Paes e homenageou "Seu Zé Pilintra". O gesto foi adotado também pela sambista Teresa Cristina e a porta-bandeira da Portela Lucinha Nobre.
Eleitor do ex-prefeito, o cantor Igor Kartnaller, de 32 anos, brincou que nem o melhor marqueteiro teria pensado em incentivar os apoiadores de Eduardo Paes a utilizarem o famoso chapéu. Em uma escola no bairro da Penha, no subúrbio carioca, o carioca fez uma selfie para registrar o momento em que votou com o adereço.
— Eu já votaria no Paes, mas muitos amigos foram induzidos a votar nele após a fala preconceituosa do Crivella. Tenho vários amigos de matizes africanas que se reuniram e combinaram de todos irem com o chapéu Panamá. É a nossa manifestação silenciosa. É inacreditável que, em pleno século XXI, um candidato trate de forma pejorativa qualquer adereço que faça parte de outra religião — diz.
Segundo Igor, a revolta na sua "bolha" foi tamanha que muitos amigos que iriam anular o voto no segundo turno das eleições municipais mudaram de opinião e optaram por Eduardo Paes. E, claro, todos com o "chapéu de Zé Pilintra" na cabeça.
— Aqui no subúrbio, o chapéu Panamá significa representatividade. Todos fomos ofendidos. Saí aqui na feira e vi muita gente usando o mesmo chapéu. Nenhum marqueteiro pensaria uma coisa tão genial quanto essa. Crivella acabou ajudando a dar mais votos ao Eduardo Paes — diz o cantor.
Chapéu como apoio e proteção contra o sol
O sol não foi o único motivo que fez Arcindo José, conhecido como Soca, tirar o seu chapéu no estilo Zé Pilintra do armário. Presidente da escola mirim da verde e rosa, a Mangueira do Amanhã, Soca afirmou que não perdeu uma palavra do debate na última sexta-feira e, após o acessório ser usado como uma forma de ataque de Crivella a Paes, resolveu colocar seu chapéu verde em homenagem à escola de samba, para manifestar seu apoio a Paes. De acordo com ele, o prefeito não tem respeito à religião alheia e deixou a cidade entregue à própria sorte.
— Resolvi usar por total apoio ao Paes contra a imundice que está aí. A cidade está entregue à própria sorte. Não tem remédio, clínica da família. Professor não recebe salário. Crivella não tem respeito à religião dos outros. E ainda tem os Guardiões do Crivella.
Aos 72 anos, dona Anita Nobre não precisaria votar, mas resolveu sair de casa mesmo com o calor e no meio da pandemia para votar no candidato do DEM. Essa é a terceira vez que ela sai do seu isolamento. Com o chapéu na cabeça como manifestação de apoio ao Eduardo Paes, ela foi acompanhada de sua filha, a porta-bandeira da Portela Lucinha Nobre, de 44 anos, que também usava o acessório.
— Somos do carnaval, apoiamos o Paes. Não podemos apoiar intolerância religiosa — declarou Lucinha.O chapéu já fazia parte do guarda-roupa do fonoaudiólogo Reinaldo Lopes, de 53 anos, mas, neste domingo, ele também resolveu tirar o acessório do armário para se manifestar:
— Vi o debate, foi ridículo. O prefeito precisa sair, ele vai destruir o Rio. Quando tem o ruim e o péssimo, a gente vai no ruim. Eu já tinha esse chapéu e, quando vi, pensei que precisava usar para expressar meu repúdio ao Crivella.
Via O Globo