O isolamento social, muito necessário em tempos de pandemia do coronavírus, tem obrigado mulheres e meninas a conviver por muito mais tempo ...
O isolamento social, muito necessário em tempos de pandemia do coronavírus, tem obrigado mulheres e meninas a conviver por muito mais tempo com seus agressores. Com isso, houve um aumento de 50% no número de denúncias de violência doméstica apresentadas ao Plantão Judiciário da Mulher. Para ajudar a reduzir esse problema, a Secretaria de Estado de Saúde adotou uma série de medidas e está ampliando a informação às mulheres sobre como agir e a quem recorrer para evitar a escalada da violência.
De acordo com a coordenadora de Vigilância e Promoção da Saúde, da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Eralda Ferreira, a procura das mulheres por atendimento nos postos de saúde não aumentou na mesma proporção, o que pode ser interpretado como receio por parte das vítimas de violência de sair de casa e acabar contraindo Covid-19.
“Acredita-se que o temor da contaminação pode ter sido a causa da baixa procura de atendimento nos pontos de atenção à saúde, na rede pré-hospitalar, hospitalar e atenção primária à saúde, por pessoas em situação de violência”, comenta Eralda.
A coordenadora da área técnica de Saúde das Mulheres da SES, Leila Adess, afirma que o setor tem se esforçado para garantir que as vítimas sejam atendidas da maneira mais segura possível. De acordo com a médica, desde a segunda quinzena de março, quando foi decretada situação de emergência sanitária por conta da Covid-19, a área de Saúde das Mulheres passou a identificar questões relevantes para a saúde deste público, tanto físicas quanto mentais, em relação a violência doméstica, entendendo que, no momento em que isolamento social se fazia necessário, as mulheres ficariam em perigo.
“O que temos feito neste período de cinco meses é orientado os profissionais de saúde, para que eles informem as mulheres sobre os locais de acolhimento e tratamento em situações de violência sexual e doméstica, entendendo que, mesmo em um período em que temos uma revisão dos fluxos de atenção, é muito importante ter a porta aberta para esse tipo de situação”, disse Leila.
Leila ressalta o esforço da equipe para criar espaços que possam acolher as vítimas dos mais variados tipos de violência, realizando reuniões quinzenais dos Grupos Condutores da Rede Cegonha, que oferece cuidados às mulheres em período gravídico-puerperal (período que envolve transformações para a mulher nos aspectos físicos, psíquicos e sociais, podendo aparecer alterações na sua personalidade e gerar sofrimento psíquico com intensidades variadas, o que pode dificultar o futuro vínculo entre mãe e filho). Os grupos abrangem os 92 municípios do estado. A inclusão do tema da violência no pré-natal, no parto e puerpério tem possibilitado aproximar gestão e assistência, sempre apoiadas em orientações técnicas como a Nota Técnica: Atenção à Saúde Sexual e Reprodutiva no Contexto da Pandemia do Novo Coronavírus (Covid19).
Outro campo de atuação da coordenadora tem sido junto ao Núcleo Estadual de Saúde para Prevenção da Violência e Promoção da Cultura da Paz, em uma perspectiva de trabalho conjunto com outras áreas técnicas da SES, assim como na construção de parceria com as instituições sociais. A articulação interna e externa da secretaria tem buscado divulgar os conteúdos técnicos do “Protocolo de Atendimento às Pessoas em Situação de Violência", lançado em 15/05/2020.
Diante do aumento do número de casos de violência contra mulher, e da necessidade crescente de prestar atendimento integral às vítimas, a equipe da Saúde da Mulher tem se reunido com os gestores das unidades de emergência próprias do estado, de modo a reforçar que, ao prestar o atendimento especializado às mulheres vítimas de violência física e sexual, o serviço seja pautado no princípio básico do acolhimento e tratamento digno e humanizado, de forma a evitar o constrangimento da mulher. Conhecer o contexto social e a história de violência que é vivenciada pelas mulheres, em especial nesse período de confinamento social, é fundamental para que a equipe de saúde possa evitar uma possível escalada da violência, que pode ter consequências graves e fatais