BELFORD ROXO - O tatame sempre fez parte da vida de Julio César. Fã de esporte, mas deficiente visual desde a infância, viu nos dojôs ...
BELFORD ROXO - O tatame sempre fez parte da vida de Julio César. Fã de esporte, mas deficiente visual desde a infância, viu nos dojôs a chance de vencer as batalhas da vida. Aos 26 anos, o morador de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, comemora o seu maior feito logo no seu primeiro ano como profissional: a classificação para os Jogos ParaPan-Americanos de Lima.
— Durante toda a minha formação, eu morava na Baixada e estudava na Zona Sul do Rio de Janeiro. Minha mãe e minhas irmãs sempre me incentivaram a praticar esportes. Deixei de enxergar completamente aos sete anos e minha deficiência nunca foi uma barreira para os esportes. Eu nadava e lutava, mas para competir precisei escolher apenas um dos esportes, por causa dos treinos mais intensos — contou o paratleta.
A vaga veio após o título do Grand Prix Internacional de Judô para cegos, disputado em São Paulo. A boa performance o torna uma das esperanças de medalha para o país em Lima — a viagem está marcada para o dia 17 de agosto. Enquanto não embarca, se divide entre seus cinco treinos semanais na academia e o apoio da esposa e dos quatro filhos.
— Estão muito animados, mas ainda não têm noção do que é a competição. Sabem que os pais estão contentes e que o papai vai passar um tem longe. O coração aperta, mas eles saberão que é importante e terão muito orgulho de mim — conta.
Júlio também irá participar da cerimônia de abertura e encerramento do evento. Filho de pai ausente, ele ganhou uma nova presença paternal com Ricardo Agnez, seu amigo e que virou também seu treinador que o condicionou rumo ao evento. A boa performance no Grand Prix rendeu patrocínios e a busca por novos desafios: ele ainda vai para Uzbequistão e Portugal para disputar competições da modalidade.
— É uma alegria grande ver o Júlio no Parapan, todos que treinam no CT estão torcendo por ele. Eu nunca tinha treinado um deficiente até que ele chegou e quis treinar comigo. Fomos aprendendo treino a treino como realizar as aulas. Estamos muito confiantes, ele vai trazer uma medalha no peito e, quem sabe, vai chegar à Paraolimpíada do Japão no ano que vem — disse o técnico.
— Nós buscamos valorizar os atletas do entorno, proporcionando a eles, uma perspectiva de mudança de vida e o Júlio Cesar, é mais um exemplo de que o esporte é uma alternativa para superação dos desafios que a vida propõe — conta o diretor executivo da RioPae Vinícius Mello.