Construído dentro do programa “Minha casa, minha vida” para atender a população mais pobre, o Condomínio Toscana, em Belford Roxo , na...
Construído dentro do programa “Minha casa, minha vida” para atender a população mais pobre, o Condomínio Toscana, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, transformou-se em um reduto controlado pelo tráfico de drogas. Além de expulsar moradores e utilizar apartamentos para guardar entorpecentes e armamentos empregados em confrontos contra facções rivais, o conjunto virou ainda, nas mãos dos bandidos, uma espécie de universidade do crime. Segundo o promotor Fábio Correia, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) — braço do Ministério Público do Rio que participou de uma grande operação no local nesta sexta-feira —, denúncias apontam para o uso de áreas comuns do condomínio em treinamentos para roubos de carros, uma das especialidades da quadrilha que controla a região.

A prática, de acordo com esses relatos, acontecia na via principal que dá acesso ao conjunto, que deveria servir apenas de estacionamento e passagem. Em vez disso, os criminosos valiam-se da rua larga para treinar como abordar as vítimas. Ao lado desse espaço, existe, por exemplo, uma pequena área de recreação, com brinquedos infantis. Após os roubos, os bandidos tinham como prática cobrar resgates dos proprietários ou até das seguradoras, que chegavam a até R$ 2 mil, dependendo do modelo do veículo. O Condomínio Toscana fica ao lado da comunidade de Santa Tereza e próximo também às favelas da Guaxa e Machado, todas dominadas pelo mesmo bando.
— É uma região onde falta praticamente tudo. Não tem saneamento básico, ou condições simples de atender a população. As ruas laterais estão repletas de barricadas. E a quadrilha se vale dessa ausência de ordenamento urbano para fazer uso criminoso do local — afirma o promotor Fábio Correia.

Na incursão desta sexta-feira, que contou ainda com a participação da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), pelo menos nove carros roubados foram recuperados no interior do empreendimento. Além disso, 11 suspeitos foram presos, e outros dois morreram em confronto com os policiais. Ao lado do conjunto, em uma área de mata, havia uma espécie de abrigo improvisado utilizado pelos criminosos.
— Em um dos apartamentos, foram presas duas pessoas em flagrante, portando drogas e armas. Fica claro que havia uma opressão muito grande sobre os moradores, a enorme maioria cidadãos de bem e trabalhadores, inclusive com relatos de expulsões — diz o promotor.

Os mandados de busca e apreensão cumpridos no condomínio nesta sexta foram obtidos dentro da investigação de um homicídio ocorrido em 19 de junho deste ano, no contexto de uma guerra entre facções rivais. Entre os suspeitos procurados estavam Geonário Fernandes Pereira Moreno, conhecido como Genarinho, de 35 anos, responsável por comandar a venda de drogas na região, e Michael Pinto de Melo, o Cachorrinho ou Kinho, de 29. A vítima do assassinato foi Michel Gomes Euzebio, que teria sido morto após participar de uma tentativa de invasão à comunidade de Santa Tereza.

Investigações indicam o envolvimento da dupla em outros homicídios ocorridos na Baixada Fluminense. Geonário foi denunciado por um assalto a caminhão de carga no Arco Metropolitano que deixou dois vigilantes mortos em maio do ano passado. Já Michael é apontado como integrante do bando que atacou um bar em Duque de Caxias, em outubro último, matando três frequentadores. A motivação do crime seria uma disputa por território com grupos paramilitares, mas nenhuma das vítimas tinha envolvimento com milícias.

Informações obtidas pela polícia atestam que Geonário estava no interior do Condomínio Toscana, um de seus esconderijos habituais, até a madrugada anterior à operação. Horas antes da chegada dos agentes, contudo, ele deixou o conjunto em um bonde composto por oito carros, que seguiu para uma favela próxima dominada por uma quadrilha rival, onde um tiroteio chegou a ser registrado. Nem ele nem Michael foram localizados pelas autoridades. Os dois continuam foragidos.
Via Extra