Dayze Peixoto chega à Baixada Fluminense aos 7 anos com a mãe. Aos 9 anos fica órfã e sozinha no mundo BELFORD ROXO - O olhar semp...
Dayze Peixoto chega à Baixada Fluminense aos 7 anos com a mãe. Aos 9 anos fica órfã e sozinha no mundo
BELFORD ROXO - O olhar sempre direcionado para o horizonte e o sorriso são conquistas de superação da dura fase da infância marcada por uma perda com potencial para levar qualquer menina de nove anos de idade ao nocaute no ringue da vida. Só que não. A professora de Educação Física formada pelo Centro Universitário Uniabeu Dayze Marília Peixoto, 29 anos, suportou o falecimento da mãe Maria Cristina Peixoto aos 34 anos, vítima de câncer de útero, dois anos depois de deixar a cidade de Itabuna, na Bahia, e apostar todas as fichas de dias melhores, em Austin, Nova Iguaçu.
Sem poder decidir o próprio destino, a pequena baiana foi levada para a casa do namorado da mãe. Iniciava o roteiro dos desafios. “De repente eu me vi em uma família com 15 crianças, além dos adultos. A princípio fiquei assustada com tanta agitação, mas entendi que precisava me adaptar àquela realidade da melhor maneira possível”, diz Dayze Peixoto. Dos nove aos 16 anos ela vivenciou com a grande família as alegrias das brincadeiras e também os momentos amargos, como todo mundo.
“Posso dizer que tive uma infância com a dor da perda da minha mãe, a saudade que apertava o peito e me fazia chorar escondida, mas livre e também feliz”. A professora não pediu, porém ganhou um limão e soube fazer dele uma limonada de sabor inquestionável. “Nunca quis para mim o rótulo de coitadinha. Ainda menina sabia que não era a única criança órfã e que a minha história era de muitas pessoas e que cabia a mim escrever as páginas em branco da existência de forma diferente”, comenta com os olhos castanhos brilhando.
Para o livro da sua vida ficar bem escrito, a professora Peixoto sempre se dedicou aos estudos, embora não houvesse qualquer cobrança de nenhum adulto. Aplicada e boa aluna, nunca ficou reprovada. Curtia ler Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Carlos Drummond de Andrade, mas o jeito sapeca gritava alto. “Eu não era bagunceira, mas gostava de fazer imitações de porco, cachorro, galo, e os colegas se divertiam demais”, lembra com um largo sorriso. O resultado só podia ser sermões da diretora e, como punição, ficar no banco do pensamento da sala da diretora.
Focada, embora inquieta, aos 16 anos, Peixoto ganha uma nova família. Ela vai morar, em Jacarepaguá, com um casal evangélico e começa a trabalhar em um escritório de contabilidade. Inteligente, aprende rápido as tarefas, porém não curtia a atividade e nem o rígido padrão comportamental imposto pela nova família. Com a cabeça cheia de sonhos, Peixoto decidiu voltar à Baixada Fluminense, dessa vez para Belford Roxo. “Eu trabalhei por três anos em uma empresa de telemarketing que tinha convênio com a ABEU. Comecei a ficar mais perto do sonho do ensino superior, da Educação Física”, diz.
Através do convênio entre a empresa e a ABEU, Peixoto iniciou o curso de Licenciatura em Educação Física na Uniabeu. “O carinho com a instituição foi uma coisa muito interessante. Quando eu comecei a trabalhar e ao mesmo tempo a estudar na ABEU foi uma sensação muito incrível”, comenta. A menina que rejeitou a dor está na área comercial da Uniabeu e atua como professora de Educação Física, trabalhando especificamente com crianças, aos finais de semana. “Eu não sou forte. Aprendi a tirar da vida o que ela tinha para me oferecer. Se eu permitisse que a morte da minha mãe me tornasse uma pessoa amargurada, não teria a família amável que tenho hoje”, afirma emocionada.
A saudade sempre existirá, mas há boas lembranças, como os episódios da perna e do nariz quebrados, joelhos ralados e uma mordida de cachorro, as mangas do quintal do vizinho. A satisfação pela escolha da profissão e do trabalho realizado com a molecada faz da professora de Educação Física Dayze Peixoto alguém que soube superar os desafios impostos. “Se você se fecha na desilusão, deixa de aproveitar outros amores”, finaliza com sabedoria.